Por Wanderlei Passarella - Founder & Chairman no CELINT
Era uma tarde chuvosa de sexta-feira. Tudo indicava que a reunião seria breve e eu iria para casa mais cedo. Nesse dia, o Conselho de Sócios dessa empresa tinha uma pauta mais curta e, relativamente, fácil de ser realizada. Eu era o único Conselheiro Externo Independente presente nessa reunião. Todos os outros eram membros das famílias de sócios.
Em determinado instante, um irmão se dirigiu a outro perguntando sobre o porquê de seu advogado ainda não haver liberado a análise do inventário de seu pai. A resposta veio totalmente enviesada. No que, então, o arguente se levantou e partiu para agredir o respondente!!!
Nesse momento, num flash, percebi a importância de ser calmamente ativo. Pulei da cadeira, sem julgar quem estava certo ou errado e me interpus entre os dois. Fui seguido pelos demais participantes e a situação ficou sob controle. A reunião não tinha mais clima para continuar. Cada um foi para uma sala contígua.
Então percebi que era o momento de ser ativamente calmo. Fui conversar com cada um. Primeiro ouvi o agressor. Parei para escutar, sem retrucar, apenas tentando perceber como poderia fazer com que ele percebesse que a reação foi demasiada. Paciência, tato, cuidado. Assim, ele se redimiu do fato e prometeu não mais agir daquela forma. Estava em jogo a própria continuidade do Conselho e do trabalho que vinha sendo desenvolvido...
Quando me sentei com o outro, que quase foi agredido, ele disse que não mais participaria das reuniões, a menos que pudesse levar um guarda-costas. Novamente, paciência, tato e cuidado. Argumentei, e ele entendeu, que não seria possível ter uma pessoa estranha no recinto, dado o caráter confidencial dos assuntos. E consegui convencê-lo de que aquilo tinha sido um ponto fora da curva. A empresa, a família e a sua própria relação com o irmão não precisavam ser prioridades para ele, mas o fluxo de dividendos poderia regredir, caso o processo decisório fosse prejudicado. Ufa, ele consentiu em continuar.
Não é fácil permanecer centrado quando o ambiente ferve. Nessas horas, sua irritação pode ser mais um fator a desencadear problemas com consequências irreversíveis. Não há como cuidar de uma empresa e dos seus membros, se você não cuida de si próprio. Manter-se calmamente ativo e ativamente calmo é o ápice da capacidade de ajudar. Uma arte que se conquista com muito autoconhecimento, exercícios de paz interior e com a vontade de evoluir sempre. Em empresas familiares, essa capacidade é mais importante do que as questões técnicas a serem resolvidas!!! Se quiser ser um Conselheiro de verdade, prepare-se para "cuidar do criador e da criatura"!
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